Retorno ao Lixão de Itaoca

Passado 6 anos da minha primeira visita ao Lixão de Itaoca, localizado em São Gonçalo/Niterói. Fui verificar como estava a "desativação" do aterro sanitário, uma área de 170 mil metros quadrados afetada por mais de 40 anos, pelo despejo incessante de todo o lixo do município e, que deveria ter sido fechado em fevereiro de 2012. Neste retorno ao aterro, minha apreensão foi ainda maior, principalmente pela dificuldade de acesso, por se tratar de um território que passou a ser controlado pelo tráfico da comunidade do Salgueiro. Para seguir com a minha missão, contei com o apoio do meu irmão que reside próximo à região e faz trabalhos de evangelizações, desta forma, conseguimos passagem liberada para andar nas ruas dominadas por jovens bem armados de fuzis e pistolas, que circulam tranquilamente sem receio de enfrentamento policial... confesso que estar próximo daquela realidade, até então, só vista pela televisão, foi realmente uma sensação de muito medo e já não via a hora de sair dali. Outro situação complicada é para chegar no Lixão, pois, além de ser um lugar afastado (e esquecido), curiosos não são bem vindos. Portanto, é muito arriscado visitar o local sem conhecer alguém de lá. E novamente com a ajuda do meu irmão, foi possível circular nos caminhos de terras, mesmo assim, ele teve que levar a bíblia para mostrar que era evangélico. Os registros de fotos foram todas escondidas, pois, são expressamente proibidas e acabei utilizando o celular para facilitar o momento de escondê-lo. Visivelmente a parte alta onde era um amontoado de lixo, foi todo coberto por terras e já não se vê a quantidade de pessoas disputando espaço com porcos e urubus por alimentos. Antes era um cenário muito forte, que chocava qualquer ser humano, vendo famílias desde crianças até idosos fazendo daquilo o seu meio de sobrevivência.

Ainda há muitas casas sobre o aterro, infelizmente boa parte dos moradores de Itaoca, insistem em permanecer no local, já que não tem outras alternativas para tirar seus sustentos. A verdade é que esta população sofre com o descaso e abandono da prefeitura e pela a falha de fiscalização do governo, uma vez que, não se trata somente de crime ambiental, mas também de crime social. O que não é visto durante o dia, é comprovado à noite quando caminhões seguem para uma área menor e continuam despejando clandestinamente toneladas de lixo e as pessoas voltam para garimpar alimentos e materiais recicláveis. Diferentemente do que prevê a Lei Nacional de Resíduos Sólidos, em São Gonçalo, não houve criação de nenhum polo de reciclagem para empregar e indenizações para os catadores daquele lixão. Continuando nossa visitação, vimos 2 “piscinas” abertas e protegidas ao redor com lonas de borrachas, que eram utilizadas para armazenar um grande volume de chorumes e segundo informações, esta água contaminada era colocada em caminhões pipas para fazer a limpeza nas ruas em fim de feira, ou seja, nada é dispensado naquele lugar, até os porcos que são criados em condições deploráveis de extrema imundices e doenças, fazem parte não só da alimentação local, mas conforme constatamos são vendidos para abastecer os açougues ou comércios ilegais de carnes nas comunidades. Mesmo tendo sua maior parte coberta, estima-se que a decomposição dos lixos demorem 20 anos, portanto, todo aquele solo contaminado em permanente movimento, com passagem de líquido, produção de gás metano e monóxido de carbono, considerados combustíveis e podem explodir a qualquer momento. O mais agravante é quando chove, os resíduos desse lixo são levados para os mangues e também no entorno da Baía de Guanabara.

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