sexta-feira, 5 de maio de 2023

Solano Trindade

Francisco Solano Trindade, foi um poeta brasileiro, folclorista, pintor, ator, teatrólogo, cineasta  e militante do Movimento Negro e do Partido Comunista. Nasceu em 24 de julho de 1908, no bairro de São José, em Recife/PE, filho do sapateiro Manoel Abílio e da doméstica Emerenciana Quituteira. Estudou até o segundo grau e chegou a participar, por um ano, do curso de desenho do Liceu de Artes e Ofícios. Desde cedo, estabeleceu contato com a cultura popular e o folclore regional, levado pelo pai nos dias de folga para dançar Pastoril e Bumba-meu-boi nas ruas do Recife. O carnaval, o maracatu e o frevo fascinavam o menino. Ainda jovem, nasceu o amor de Solano pela poesia e ele começou a compor seus primeiros poemas em meados da década de 20. A pedido da mãe, analfabeta, lia novelas, literatura de cordel e poesia romântica, que ambos apreciavam. Já adulto, casou-se em 1935, com a terapeuta ocupacional e coreógrafa Maria Margarida, e teve quatro filhos. Foi nessa época, aos vinte e tantos anos, que começou a atuar politicamente, sendo precursor do ativismo negro. Na década de 1930, é marcada pela polarização ideológica política, entre direita e esquerda, gerando muitas discussões sobre o autoritarismo segregador, defendido pelo discurso nazifascista, que se espalhava pelo país. Em contrapartida, dá-se o fortalecimento na Imprensa Negra e a criação da Frente Negra Brasileira, que também se organiza em forma de partido político e fortalece a resistência dos afrodescendentes, em sua luta pela obtenção da cidadania plena, a começar pelo direito à educação, passados mais de 40 anos de vigência da Lei Áurea. Nesse período, Solano Trindade participa em Recife do I Congresso Afro-brasileiro, organizado por Gilberto Freyre, que reúne dezenas de intelectuais voltados para a discussão da contribuição cultural da diáspora africana em nosso país.

Participa também do II Congresso Afro-brasileiro, realizado posteriormente em Salvador. Em 1936, entusiasmado com os movimentos em prol da consciência negra, que se espalhavam nas principais cidades do país, funda a Frente Negra Pernambucana e o Centro de Cultura Afro-Brasileira, juntamente com o poeta Ascenso Ferreira, o pintor Barros e o escritor José Vicente Lima. Ainda em 1936, estreia na literatura com a publicação de Poemas negros. Editada em Recife, a coletânea de Solano Trindade polemiza com o livro homônimo do também nordestino Jorge de Lima, lançado no mesmo ano e trazendo a público o discutido poema "Nêga Fulô". No início da década de 40, o poeta segue para Belo Horizonte e depois para o Rio Grande do Sul, onde funda um grupo de arte popular em Pelotas. Pouco tempo depois, volta ao Recife e finalmente segue para a cidade do Rio de Janeiro, onde fixa residência. Na então Capital Federal, Solano publicou o seu livro “Poemas de uma Vida Simples” em 1944. Devido a um dos poemas do livro, “Tem Gente com Fome”, o poeta foi preso, perseguido e o livro apreendido, embora houvesse, de fato, muita gente passando fome no Brasil. Em 1950, Solano Trindade funda em Caxias, na Baixada Fluminense ao lado da esposa, Margarida Trindade, e do sociólogo Edison Carneiro, o Teatro Popular Brasileiro, que contava com um elenco formado por domésticas, operários e estudantes. Nos espetáculos, o grupo adaptava para o teatro as manifestações de dança e música da cultura popular afro-brasileira e indígena. Cinco anos mais tarde, o poeta criou o grupo de dança Brasiliana, que realizou, com destaque, inúmeras apresentações em vários países da Europa. Solano Trindade foi quem primeiro encenou, em 1956, a peça "Orfeu", de Vinícius de Morais, depois transformada em filme pelo francês Marcel Camus, em 1959.

Ainda como ator, trabalhou nos seguintes filmes: "Agulha no Palheiro", "A Hora e a Vez de Augusto Matraga", "Mistérios da Ilha de Vênus" e "Santo Milagroso". Além de ser co-produtor do filme "Magia Verde", premiado em Cannes, e diretor do documentário "Brasil Dança", realizado em Praga. Em final da década de cinquenta, Solano resolve fixar as atividades do Teatro Popular Brasileiro na cidade de São Paulo, na tentativa de aproveitar a intensa vida cultural da cidade. Em 1958, lança seu terceiro livro, Seis tempos de poesia na capital paulista. Entre 1961 e 1970, Solano viveu em Embu das Artes. Enquanto esteve por lá, transformou o município em um verdadeiro centro cultural, para onde foram diversos artistas, que passaram a viver de arte, transformando mais tarde em “Embu das Artes” e vira atração turística. Na cidade, o TPB viveu a sua melhor fase, sendo que as apresentações do grupo eram sempre muito concorridas. Trabalhou também como artista plástico, pintando quadros a óleo, sendo que um quadro do artista hoje faz parte do acervo do Museu Afro Brasil. Em 1961, sai o quarto livro, Cantares ao meu povo, cujos originais haviam sido enviados a Roger Bastide, um dos primeiros estudiosos da poesia afro-brasileira, que se encanta com os poemas. Já com a saúde debilitada, Solano Trindade deixa Embu para residir em São Paulo, e depois para o Rio de Janeiro. Em 1964, um dos seus quatro filhos, Francisco, morreu assassinado num presídio carioca durante a ditadura militar. Esse acontecimento, afeta mais ainda o estado de saúde de Solano Trindade, que faleceu de pneumonia numa clínica em Santa Teresa, no Rio de janeiro, em 19 de fevereiro de 1974 aos 66 anos. Reconhecido como o poeta do povo, pela arte fundamentada na vivência popular e na luta pela liberdade da população negra brasileira.

Livros
Poemas de Uma Vida Simples (1944)
Seis Tempos de Poesia (1958)
Cantares ao meu Povo (1961)


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