quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

Literatura de Cordel

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Foram os portugueses que introduziram o cordel no Brasil desde o início da colonização. O nome tem origem nos tradicionais folhetos comercializados em Portugal, no século XVI, quando na época do Renascimento popularizou a impressão de relatos orais, feitos pelos trovadores medievais. Os pequenos livretos eram pendurados em barbantes ou cordões, chamados de cordéis. Inicialmente, eles também continham peças de teatro, como as de autoria de Gil Vicente. A literatura de cordel chegou a nosso país através dos nossos colonizadores, instalando-se primeiramente na Bahia, mais precisamente em Salvador até 1763, depois transferiu-se naturalmente para os demais estados do nordeste, especificamente em Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e do Ceará. Com o tempo, tornou-se num gênero literário popular escrito por poetas de bancada ou de gabinete, como ficaram conhecidos os autores de cordel. Alguns poemas são ilustrados com xilogravuras, também usadas nas capas. As estrofes mais comuns são as de dez, oito ou seis versos. Os autores, ou cordelistas, recitam esses versos de forma melodiosa, rimada e cadenciada, acompanhados de viola, como também fazem leituras ou declamações muito empolgadas e animadas para conquistar os possíveis compradores. Os temas incluem fatos do cotidiano, política, milagres, lendas, temas religiosos, entre muitos outros. A vida do cangaceiro Lampião e morte de personalidades são alguns dos assuntos de cordéis que tiveram maior tiragem no passado. O cordel hoje é vendido pelos próprios autores em feiras culturais, casas de cultura, livrarias e locais turísticos. Para reunir os expoentes deste gênero literário típico do Brasil, foi fundada em 1988 a Academia Brasileira de Literatura de Cordel, com sede no Rio de Janeiro.

Os primeiros poetas populares que narravam às sagas da literatura de cordel começaram a surgir a partir de 1750. Analfabetos em sua grande maioria, eles recitavam suas histórias nas feiras ou nas praças, às vezes, acompanhadas por música de violas, muito similar à tradição europeia. Entre os principais autores do passado, os poetas Apolônio Alves dos Santos, Firmino Teixeira do Amaral, João Ferreira de Lima, Manoel Monteiro, Leandro Gomes de Barros e João Martins de Athayde, embora os registros sejam muito vagos, podemos considera-los como os precursores desta poesia popular. Grande parte dos autores aproveita para criticar a realidade e as condições em que vivem, sempre abusando da ironia e do sarcasmo. Esta manifestação popular já foi muito estigmatizada e sofreu muitos preconceitos pela informalidade de sua estrutura e linguagem. Com o passar dos anos, passou a ser cada vez mais respeitada e hoje é admirada por muitas pessoas em diferentes lugares do país. Além disso, influenciou renomados escritores brasileiros como Jorge Amado, Guimarães Rosa, José Lins do Rego e Ariano Suassuna. Até Carlos Drummond de Andrade, reconhecido como um dos maiores poetas brasileiros do século XX, assim definiu, certa feita, a literatura de cordel: "A poesia de cordel é uma das manifestações mais puras do espírito inventivo, do senso de humor e da capacidade crítica do povo brasileiro, em suas camadas modestas do interior do sertão.” O cordel é de inestimável importância na manutenção das identidades locais e das tradições literárias regionais, contribuindo para a perpetuação do folclore brasileiro. Não há limite para a criação de temas desses folhetos feitos manualmente pelos próprios autores. Praticamente todo e qualquer assunto pode virar cordel nas mãos de um poeta competente.

Leandro Gomes de Barros é considerado o primeiro escritor brasileiro de literatura de cordel e o mais lido de todos os poetas populares. Seus folhetos se espalharam pelo Nordeste, sendo vendidos milhões de exemplares. Escreveu vários temas de sertanejos, cantadores, cangaceiros, tropeiros, feirantes e vaqueiros, foram muitas histórias de grande aceitação popular, como a Donzela Teodora, Juvenal e o Dragão, O Punhal e a Palmatória, Antônio Silvino, O Rei dos Cangaceiros, O Boi Misterioso e o exemplar mais vendido O Cachorro dos Mortos. Estima-se que sua vasta produção literária, atinge cerca de 600 títulos, dos quais foram tiradas mais de 10 mil edições. Foi um dos poucos poetas populares a viver unicamente de suas histórias rimadas, que foram centenas. Falece em Recife, no dia 04 de março de 1918, segundo alguns pesquisadores, vítima da epidemia da gripe Influenza Espanhola. Em 1921, o filho Esaú juntamente com mãe, assinou o documento de venda da obra de seu pai ao poeta e editor João Martins de Athayde. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional reconheceu a literatura de cordel como patrimônio cultural imaterial do Brasil. O cordel há décadas é valorizado como expressão poética de alta significação, e cada vez mais motivando estudos e pesquisas nas áreas de Antropologia, Folclore, Lingüística, Literatura, História, entre outras. Muitos historiadores e antropólogos estudam este tipo de literatura, com o objetivo de buscarem informações preciosas sobre a cultura e a história de uma época. Em meio a ficção, resgata-se dados sobre vestimentas, crenças, comportamentos, objetos, linguagem, arquitetura etc. A literatura é considerada uma importante fonte de memória popular, passando de geração para geração. Por isso, temos o dever e obrigação de preservar nossa poesia nordestina, que tanto nos lembrou de nossas histórias e principalmente dos nossos valores.

Editora Luzeiro 

Fundada nos anos 70, pelos irmãos Arlindo Pinto de Souza e Armando Augusto Lopes, a Editora Prelúdio passa por um período de muitas dificuldades financeiras, por falta de vendas dos folhetos e na beira da falência, decidem pedir concordata para evitar esse momento de decadência. Em 1981, os irmãos Arlindo e Armando retomam o negócio, agora com o nome de Editora Luzeiro. Com as mudanças englobam um período de expansão, em busca de novos rumos de comercialização, Arlindo decide em fevereiro de 1995, vender a editora para os irmãos Nicoló, que já são proprietários de uma distribuidora de livros e uma editora pornográfica em São Paulo. Mesmo otimista e acreditando na recuperação do status da empresa, Gregório Nicoló tem interesse somente comercial na Editora, uma vez que além de não ter ligação afetiva com a Luzeiro, também não conhece Literatura de Cordel. Neste mesmo ano, Manuel d'Almeida Filho ainda mantinha suas atividades com a editor. Amargurado se sentiu traído por não ter sido consultado sobre a venda da Luzeiro, principalmente desconsiderando a amizade e seu tempo de trabalho dedicado nas revisões dos cordéis. Infelizmente aos oitenta anos, o poeta veio a falecer no dia 8 de junho de 1995. A importância da Editora Luzeiro, vai além de representar seu papel no universo popular é também de grande expressão no cenário editorial geral do Brasil. Mesmo com sua sede fincado em São Paulo e tendo em sua gestão um paulistano que nunca foi ao Nordeste, Arlindo conseguiu ao longo do tempo manter em sua produção toda a essência e estrutura "nordestina" da Editora Luzeiro, além de publicar os grandes clássicos da Literatura de Cordel no Brasil.

Conheça mais da literatura de cordel nos sites abaixo:

www.casaruibarbosa.gov.br/cordel/

www.editoraluzeiro.com.br/

www.ablc.com.br/ 

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