terça-feira, 30 de janeiro de 2024

Xilogravura

Trata-se de uma técnica artesanal, que utiliza um pedaço de madeira (a mais usada é a cajazeira) para entalhar um desenho com faca ou tipo de lâmina afiada. Esta parte do processo é chamado de matriz, deixando em relevo a parte que pretende fazer a reprodução. Em seguida, utiliza tinta para pintar a parte em relevo do desenho. Na fase final, é utilizado um tipo de prensa para exercer pressão e revelar a imagem no papel. Um detalhe importante é que o desenho sai ao contrário do que foi talhado, o que exige um maior trabalho e atenção do artesão. A xilogravura é muito popular na região Nordeste do Brasil, onde estão os mais populares xilogravadores (ou xilógrafos), que frequentemente usavam a ilustração para adicionar nos textos de literatura de cordel. Alguns cordelistas também eram xilogravadores, como por exemplo, o pernambucano J. Borges (José Francisco Borges). No inicio de seus trabalhos de cordel, como não tinha dinheiro para pagar um ilustrador, resolveu ele mesmo a entalhar seus desenhos na madeira. Desde então, começou a fazer matrizes por encomenda e também para ilustrar os mais de 200 cordéis que lançou ao longo da vida. Suas xilogravuras são impressas em grande quantidade, em diversos tamanhos, e vendidas a intelectuais, artistas e colecionadores de arte. Dono de uma técnica própria de colorir as imagens, atende pedidos para representar cotidiano do pobre, o cangaço, o amor, os castigos do céu, os mistérios, os milagres, crimes e corrupção, os folguedos populares, a religiosidade, a picardia, sempre ligados ao povo nordestino. Alguns poetas cordelistas também se dedicaram a preparar as matrizes de madeira para ilustrar seus próprios folhetos como: José Martins dos Santos, Manoel Apolinário, Cirilo, Damásio Paulo Valderedo, José Costa Leite.

A xilogravura foi uma das primeiras formas de reprodução de imagens em série e uma das mais antigas técnicas de impressão do mundo. Segundo historiadores, este tipo de arte teve inicio pelos chineses e já era praticada por este povo desde o século 6. Na biblioteca Britânica, possui uma cópia do Sutra do Diamante de 868 d.C. Embora seja um pergaminho, esse é o livro impresso mais antigo que se conhece e foi encontrada em 1907 pelo arqueólogo Marc Aurel Stein em uma caverna fechada em Dunhuang, no nordeste da China. Essa caverna é conhecida como a "Caverna dos mil Budas". Durante a Idade Média, a técnica oriental firma-se no ocidente, ganhando inovações durante o século 18. Com sua difusão por diversos países, acabou chegando às nações européias, onde influenciaram as artes do século 19 e ajudaram Thomas Bewick a criar a técnica da gravura de topo, diminuindo os custos de produção industrial de livros ilustrados e inciando a produção em larga escala de imagens pintadas. Neste período apenas uma pequena parcela da população européia sabia ler e escrever. Os livros eram raríssimos e caros, pois tinham de ser copiados a mão, um a um. Assim, as feiras semanais próximas aos vilarejos eram a forma mais eficiente tanto para incentivar a socialização e conhecimento de novas histórias. Acompanhados por um alaúde (parente antigo dos violões e violas), os jograis e menestréis começavam a contar histórias de todo tipo: aventuras, romances até lendas de reis, como Carlos Magno e seus doze cavaleiros. Para que pudessem decorar todas as músicas, as rimas ajudavam os artistas a se lembrar dos versos seguintes, até chegar ao fim da história. E foi pela popularização dos relatos orais recitados por estes artistas ambulantes que nasceu a literatura de cordel.

A sua entrada no Brasil se deu através da colonização portuguesa. Inicialmente utilizada para a confecção dos primeiros rótulos de cachaça, sabonetes e doces. A partir de 1750, começam a surgir os primeiros poetas populares nordestinos, que mesmo analfabetos em sua grande maioria, recitavam suas histórias nas feiras ou nas praças, às vezes, acompanhadas por música de violas, muito similar à tradição européia. Os primeiros cordéis brasileiros eram publicações de folhetos de versos de no máximo oito páginas, impressas em papel barato. Considerado o primeiro escritor brasileiro de literatura de cordel, o poeta Leandro Gomes de Barros escreveu aproximadamente 240 obras, muitos tornaram-se vários clássicos e campeão absoluto de vendas, com muitos folhetos que ultrapassam a casa dos milhões de exemplares vendidos. Este tipo de publicação popularizou-se no período de iniciação da indústria gráfica no sertão, isso por volta das décadas de 1960 a 1970. Inclusive, alguns intelectuais e pesquisadores passaram a publicar uma série de álbuns com gravuras feitas por artistas populares. Com isso a xilogravura ganhou o “status” de arte, além de projeção nacional e internacional. Porém, com o avanço tecnológico do século 20, a prensa manual começa a cair em desuso. Com a invenção de processos de impressão a partir da fotografia, o processo técnico oriental foi considerada obsoleta, passando a ser utilizada somente por artistas e artesões. A grande desvantagem, era o uso de substâncias químicas em contato com a matriz de madeira, que não assegurava a mesma longevidade e qualidade da matriz de metal. A xilogravura também tem sido gravada em peças de azulejo, reproduzindo desenhos de menor dimensão. Esta é uma das técnicas usada pelo artesão pernambucano Severino Borges.

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