Blog do Projeto Attitude!: Entrevista com Marcos Fiel (Palhaço Bozo)

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O palhaço Bozo é um personagem mundialmente conhecido e criado nos Estados Unidos em 1946, por Alan Livingston, originalmente para a série de coletânea de discos com histórias infantis Bozo at the Circus. Fez sua primeira aparição na televisão americana em 1949, sendo interpretado pelo ator Vance Colvig, que também dublava o Pateta. Fez muito sucesso em vários países do mundo e chegou a ser produzido em mais de 240 estações de TV em 40 países, inclusive no Brasil, onde tornou-se muito popular a versão brasileira levado por Silvio Santos em 1980. O programa infantil do palhaço Bozo, teve o comediante Wandeko Pipoca, escolhido por Larry Harmon, o dono da franquia do personagem, para ser o primeiro Bozo brasileiro. Logo tornou-se um grande sucesso de audiência nos anos 80. O primeiro Bozo comandou e apresentou o programa de 1980 até 1982. Após, desentendimento com a direção da emissora para ter o maior salário da televisão brasileira da época, acabou sendo demitido por Silvio Santos. Com o sucesso do personagem, a audiência do programa cresceu e Silvio Santos para não correr o mesmo risco de ficar na mão de um ator, resolveu contratar 3 novos atores para interpretar e revezar o programa principal em São Paulo: Luís Ricardo (começou a se vestir de Bozo aos 16 anos. Ele entrava para fazer malabarismos no lugar de Wandeko Pipoca – mas não falava, para que ninguém percebesse a troca), Arlindo Barreto (O mais controverso Bozo da história era viciado em drogas, fato que é mostrado no filme Bingo – O Rei das Manhãs) e Décio Roberto (teve problemas de saúde e já estava doente quando se apresentava, morreu aos 33 anos de idade), o palhaço Bozo também era representado por vários atores locais em estados diferentes de forma simultânea.

Marcos Pajé, foi outro que interpretou o personagem Bozo entre 1983 e 1986. Ele era músico da Banda do Bozo, quando fez teste para interpretar o palhaço neste período, foi apresentado à direção do programa pelo próprio Barreto, que estava de saída. Então, quatro atores se dividiam no papel, fazendo o revezamento ao longo dia. Marcos era o menos conhecido e diz que foi prejudicado porque não era protegido por nenhum diretor da casa. “O Luís Ricardo e o Arlindo ficavam quebrando o pau porque cada um se achava o Bozo oficial do Brasil. Havia uma disputa e desentendimento entre os Bozos para ver quem ficava mais tempo no ar. Isso porque além do salário, cada um ganhava comissão sobre as ações de merchandising de que participava. Outra situação envolvia Marcos, que era usuário de drogas bem antes de trabalhar na TV. Desde 14 anos, começou com a maconha e aos 16 com o álcool, depois no SBT teve acesso a cocaína, revelou que diversas vezes chegou no programa sob o efeito de drogas para ficar mais animado, cheirava uma carreira no camarim mesmo, mas procurava não dar bandeira e poder interagir no palco com diversas crianças que davam uma "bitoca no nariz do Bozo”. Segundo ele, havia uma "panelinha" que cheirava cocaína diariamente e mantinha contato com uma pessoa para levar a droga dentro da emissora. Depois que todo o pessoal da produção e seguranças iam embora, eles se trancavam numa salinha específica e ficavam até altas horas. O tempo foi passando e o consumo das drogas aumentando, até Marcos ser descoberto e perder o emprego, sendo demitido no final de 86. Depois da demissão, Marcos ficou cinco anos sem fazer nada até acabar quase todo o dinheiro, foi vender plano de saúde e ainda muito mal, voltou para as drogas começando a usar crack, principalmente depois que se separou da mulher, a cantora Dandara.

Chegou a voltar para a TV e trabalhar com Tom Cavalcante, Eliana e Márcia Goldschmidt, mas o divórcio o deixou deprimido. Perdeu a casa, carro, imóveis, não fazia nada 24 horas por dia, seu tempo era usar o crack a todo momento sem parar e se acabava seu dinheiro pedia emprestado para comprar mais drogas, fumava trinta pedras por dia. Na pior fase da vida, chegou a pesar 55 quilos, ficar cinco dias acordado por conta dos efeitos das drogas e foi até ameaçado de morte por traficantes. Viciado em crack e sem o apoio da família, Marcos se mudou para a favela do Coruja, na Vila Guilherme, Zona Norte de São Paulo, onde se envolveu com prostituição e passou a usar drogas mais pesadas. Estava desesperado e pedia a Deus para tirar sua vida. Porque não tinha coragem de me matar. Para aliviar seus momentos de solidão, ele conheceu na favela uma cachorra vira-lata chama de Accesa. Logo a cadela se tornou companheira de conversa com Marcos, protegia suas coisas e não deixava ninguém chegar perto dele. Pediu a Deus para fazer um milagre em sua vida, e que iria parar com as drogas. Lembrou da sua irmã Mayza para pedir ajuda e no dia seguinte ela foi busca-lo para morar em Itupeva, no interior de São Paulo. Depois de anos de dependência, o ator de 56 anos está recuperado e convertido à igreja evangélica, desde 2012. Marcos adotou o sobrenome Fiel, depois de se batizar e prometeu divulgar sua história para tentar salvar outros viciados. Hoje ele vive uma nova vida, conseguiu superar o vício e ganha seu sustento dos direitos autorais que recebe. Muitos não sabem, mas é dele a voz e a autoria de vários sucessos musicais da dupla Patati Patatá.

Conheça aqui todos os 15 atores que viveram o personagem desde 1980.

Wandeko Pipoca (1980-1982)

Luís Ricardo (1982-1990)

Arlindo Barreto (1982-1986)

Paulo Seyssel (1983)

Jonas Santos (1983-1984)

Evandro Antunes (1984-1985)

Cau Alves (1983-1985)

Charles Myara (1982-1985)

Nanni Souza (1982-1985)

Décio Roberto (1984-1991)

Luiz Leandro (1985-1986)