segunda-feira, 30 de maio de 2022

Entrevista com Beto Pezão

Clique no link para assistir o vídeo da entrevista com Beto Pezão

O artesanato sergipano é reconhecido e valorizado pela sua riqueza cultural, sendo berço do artista popular José Roberto Freitas, mais conhecido nacionalmente como Beto Pezão, o mais velho de 11 irmãos (sendo 6 homens e 5 mulheres) todos filhos de José Freitas de Mendonça e Maria da Pureza Melo de Mendonça. A família já vivia do barro, o seu pai era artesão enquanto sua mãe destacava-se na pintura de moringas (pequeno recipiente de cerâmica para armazenar água). Em busca de melhores condições de vida, toda a família mudou-se para a cidade de Aracaju, localidade onde todos os artistas comercializam suas peças artesanais para encantar os turistas. Foi neste período de mudanças, que Beto após completar 19 anos, teve a oportunidade de ganhar uma bolsa de estudo em Rio Bonito e fez um curso de cerâmica para aperfeiçoar suas habilidades. Os destaques de seus trabalhos têm características próprias, representadas na figura do povo nordestino e seus costumes, inclusive em algumas imagens sacras. Os pés grandes que deram origem ao seu apelido, surgiram por acaso quando Beto percebeu que algumas esculturas não tinham estabilidade, por isso alongou os pés das obras que fabricavam para dar mais sustentação. A simples correção dos pés transformou-se em marca registrada do artista, tornando seu estilo ainda mais inconfundível. Muitas de suas lembranças serviram de inspiração para Beto fazer suas obras retratadas, principalmente no cotidiano do povo sertanejo, o próprio artista assume que é ele na representação de seus personagens com as expressões de tristezas nos rostos de pescadores e lavradores, segurando arados ou carregando cabaças, mostram um relevante valor estético e artístico, admirados por colecionadores em vários lugares do mundo. Com seu trabalho valorizado, Beto participou de inúmeras feiras e exposições no Brasil e no exterior.

Para quem possui uma peça deste artista sergipano, pode-se considerar absolutamente um privilegiado, pois, existem diversos cópias das suas esculturas. Vale informar que muitas obras vendidas em feiras ou casas de artesanatos, são imitações fabricadas em moldes por aproveitadores... sem valor nenhum. As suas obras não são coloridas e dificilmente você encontrara em qualquer lugar, são peças consideradas únicas com traços fortes e detalhes anatômicos marcantes, trabalhadas de forma bem artesanal com ferramentas adaptadas pelo artesão, e cada peça é feita no seu tempo sem pressa, leva um dia para ser concluída. Depois de pronto é colocado uma certidão de origem registrada para legitimar a originalidade da escultura, além de escritos as iniciais do artesão e a cidade, localizado nos pés das suas obras. É um homem sem vaidade nenhuma, que sabe do valor da sua arte que não esta acima do ganho em dinheiro e sim dos valores éticos, morais e de caráter. Talvez hoje, seria um artista consagrado, mas preferiu o “anonimato” da vida simples, por isso, deixou de conviver com pessoas que se promoviam ao lado dele. O maior sonho de Beto é ter uma escola para deixar um legado artístico e ensinar suas técnicas as pessoas que se interessam pelo seu trabalho. Isso é muito importante, porque demonstra a preocupação dele em não deixar acabar a verdadeira obra artesanal cultivada pelas mãos do seu criador. Essa humildade mostra a raiz de um homem que veio do Nordeste e passou por diversas dificuldades para fazer o que mais ama. Infelizmente quando falamos em artesanato popular, considero Beto Pezão como um dos últimos representantes desta cultura. O que era antes passado de geração a geração, esta se acabando porque os filhos de artesãos, tem outros interesses mais rápidos para conseguir dinheiro, que não seja vivendo de artesanatos.

Minha amizade com Beto Pezão

Primeiro conheci a obra (na verdade várias imitações), que achei muito interessante, aquelas esculturas coloridas de pés grandes. Curioso, comecei a procurar informações do artista, mas ninguém sabia a origem do autor. Até que um dia viajando a Aracaju, entrei numa loja de artesanatos e perguntei ao proprietário, quem era o autor das obras e por coincidência respondeu, que o artesão é conhecido como Beto Pezão e mora aqui na cidade, inclusive suas peças originais são encontradas no Centro de Arte e Cultura J. Inácio. Quando cheguei no local e vi aquelas esculturas rústicas sobre as estantes, minha vontade era de comprar todas. Mas tive que me contentar com uma pequena peça, iniciando naquele momento minha coleção (hoje tenho algumas compradas e recebidas de presentes por ele). A vontade de conhecê-lo era tamanha, que consegui seu contato e entusiasmado liguei para elogiar seu trabalho. Com a voz mansa agradeceu os elogios e me convidou para ir na sua morada. No dia seguinte, cheguei no endereço onde fica seu ateliê e casa, me apresentei e com aperto de mão surgia ali nossa amizade. Beto vive da sua arte, mas quando gosta de alguém não hesita em agradar dando-lhe uma obra como presente. Isto é tão verdade que ciente da gravidez do meu filho Nikolas, ele prometeu que faria uma homenagem a minha esposa fazendo a modelagem de uma mulher retirante sertaneja, gravida com sua filha segurando a barriga (seria a representação da minha filha Marcelle de 10 anos). Infelizmente, após 2 meses ter ficado pronta, uma visitante foi ao ateliê e vendo a minha exclusividade na prateleira, insistiu tanto que Beto teve de vendê-la. Para cumprir o que havia prometido, resolveu substituir com outra peça, desta vez, com uma mulher segurando uma criança no colo (o Nikolas já havia nascido). Foi realmente uma homenagem, que guardo com muito carinho feitas por mãos tão calejadas deste grande artista.

Vejam mais fotos...
















Nenhum comentário:

Postar um comentário